Crítica

Vejo muitos artigos críticos a respeito do ensino/aprendizagem em sala de aula que mantém uma posição conservadora, isto é, continuam acreditando que o professor é a entidade máxima dotada do poder absoluto relativo ao conhecimento, que acreditam, segundo Becker¹, na transmissão do conhecimento, chamando o referido posicionamente de Pedagogia Diretiva, que já no próprio nome indica uma lógica. É objetiva, sem rodeios, não espera nada além do que se quer. Becker chama essa "crença" na transmissão do conhecimento de "mito", porém não explica o porquê. Por que "mito"? Por ser um pensamento comum, mesmo inconscientemente, à grande maioria funcional? E que é errônea? Acredito que não se pode falar em teorias e posicionamentos mantendo uma postura extrema, radical. Estamos frente a uma análise mais profunda das práticas pedagógicas em sala de aula, o objetivo disso tudo não é apenas levantar as problemáticas do sistema, mas sim, juntos, na mesma direção, encontrar uma solução para que o ensino se torne cada vez mais compacto.

Outros, baseiam-se no modelo Pedagógico Não-Diretivo, no outro extremo da corda bamba. Por acreditar que devem interferir o mínimo possível, acabam por não causar o efeito que pretendem, pois o que deveria ser motivo de interesse torna-se um motivo de desleixo, despreocupação em massa. Esta é uma postura completamente Apriorista, em que o conhecimento nasce com o ser humano..que já é programado genéticamente, a bagagem hereditária. No entanto, com essa atitude, mais uma vez extremista, frizando portanto, acaba botando tudo a perder porque abstém-se de interferir no processo de aprendizagem do aluno.

Por sua vez, chegam os que agem segundo a Pedagogia Relacional, esta sim neutralizadora, não aponta nem um extremo nem outro, e fazendo jus a o seu contexto teórico, é criadora de um novo posicionamento. Fala-nos a concepção que, por assim dizer, o aluno somente aprenderá alguma coisa de fato se houver construção de um novo conhecimento, partindo do ponto da ação e problematização. Assimilação e Acomodação. Ou seja, o aluno deve questionar a sua ação.

Concluindo, e não menos perceptível, assumo uma postura de combinações. Aluno e professor interagindo. Determinando mutuamente.

_____________________________________________________________
¹ Becker, Fernando. Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos.

A Carne De Um Desejo

Não saberia dizer quando começou todo aquele turbilhão de sinestesia, apenas constato que deleitava-me naquelas sensações ébrias que faziam-me aventurar por mundos desconhecidos como se fosse um sonho. Eu era personagem real mas também encontrava-me como expectadora de um espetáculo que não parecia nada surreal. A imagem surgiu como a chuva que deságua num repente, tão intensa e imprevista que provocou a minha reação retardada ou então, a minha não-reação. Fiquei estática, como uma escultura grega que tudo vê e ouve porém nada fala ou faz.
Meu corpo pulsava de uma maneira que nunca havia sentido e um desejo ardente invadia-me como se eu fosse a qualquer momento avançar em cima daquele ser carregado de uma força magnética que eu não entendia. Aquele falar sem nenhuma palavra..sequer um suspiro, apenas um olhar fixo querendo dizer coisas inauditas. Ambos nos aproximávamos sem nem ao menos disso nos aperceber e então eu senti colado ao meu corpo um membro insaciável, de uma presença voluptuosa imensa. Ele parecia um monstro esfomeado em seu exílio quase eterno, embora sedendo aos poucos seu orgulho; E eu, eu parecia uma fera..uma succubus pronta para atacar sem dó e sem escrúpulos. Tudo dentro de mim aflorava como o sangue de uma espadada mortal, eu queria aquele corpo provido de alma tão sublime..eu queria aquela face delicada e encantadora. Enlouqueci de um prazer absoluto sem de fato senti-lo dentro de mim..isso foi o suficiente para que eu esquecesse quem era e onde estava. Ataquei-o velozmente com meus lábios famintos, sem pausas, sem tempo para respirar. Não deixei resquícios de pensamentos sóbrios, eu queria joga-lo no chão e possuir tudo aquilo que já era meu por direito e por carma. Por destino. De repente, tudo some e o ar fica tão seco quanto o deserto. Acordo. Desesperada olho para o relógio e percebo que realmente não estava atrasada.

SEXUALIDADE E AUTO-ESTIMA

A preocupação com a satisfação e o prazer sexual de homens e mulheres tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Em decorrência disso, tem aumentado a necessidade de se compreender melhor as dificuldades sexuais, suas causas e conseqüências.

Sabemos que a sexualidade é parte integrante da personalidade total das pessoas. A sexualidade humana não se limita ao ato sexual; ela engloba emoções, afetos, sensações, etc. Dessa forma, sentimentos e pensamentos influenciam o exercício da sexualidade. O contrário também ocorre, ou seja, a vivência da sexualidade irá influenciar sentimentos e pensamentos, inclusive a respeito de si mesmo.

O conceito de auto-estima pode ser compreendido como a aceitação do que se é e como se é. É a confiança no direito de ser feliz, a percepção de valor e de poder ser admirado. A sensação de inadequação, de culpa ou vergonha, ou ainda a ausência de confiança e amor-próprio, indicam prejuízo na auto-estima de um indivíduo.

É consenso entre os profissionais que a sexualidade humana sofre forte influência de fatores como auto-estima, auto-imagem e auto-conceito. A forma como a pessoa se valoriza interfere, sem dúvida, em como irá exercer sua sexualidade.

A auto-estima está relacionada a outros dois conceitos importantes: auto-eficácia e auto-respeito. A auto-eficácia é a confiança do indivíduo em sua capacidade para pensar e enfrentar os desafios da vida. Já o auto-respeito é a percepção de si mesmo como pessoa merecedora de felicidade e qualificada para expressar desejos e necessidades. O indivíduo com auto-estima preservada se respeita e exige o mesmo dos outros, e sente-se capaz de ser amado. Já uma pessoa com sentimentos de menos-valia pode não ter prazer sexual por não se sentir no direito de reivindicá-lo.

Como podemos perceber, sexualidade e auto-estima são conceitos que estão intimamente ligados, sendo que queixas e sintomas sexuais podem, muitas vezes, ser expressões de baixa auto-estima. É muito comum chegarem aos consultórios pessoas com dificuldades sexuais cuja causa é a má relação que a pessoa tem consigo ou com seu próprio corpo.

É o caso de mulheres que não conseguem ter orgasmo porque não estão satisfeitas com o corpo que têm, e se preocupam excessivamente com a aparência na hora da relação sexual. Ou ainda porque não se permitem pedir o estímulo adequado aos seus parceiros, e continuam mantendo relações pouco agradáveis.

Poder falar como quer ser tocada e estimulada, além de poder pedir as carícias ou práticas sexuais que lhe são prazerosas, exige que a pessoa seja um pouco "egoísta" em determinados momentos. Não se sentir importante o suficiente, ou ainda achar que o outro pode se aborrecer com as solicitações, limita significativamente as possibilidades de realização sexual.

Na prática clínica pude perceber que as conseqüências mais comuns da baixa auto-estima em mulheres são: grande necessidade de sentir-se amada e de agradar ao parceiro, medo de fazer solicitações, dificuldades com o corpo e aceitação do que não gosta ou não quer.

Os homens também apresentam dificuldades causadas pela baixa auto-estima, como sentimentos de incompetência, de ser menos "homem" ou menos viril, grande cobrança interna, comparação com outros homens e insatisfação com a fragilidade. Alguns ficam tão preocupados com seu desempenho sexual, acreditando que irão "falhar", que acabam apresentando dificuldades de ereção por causa dessa ansiedade. A antecipação do fracasso e a ansiedade de desempenho são processos cognitivo-emocionais bastante comuns, que normalmente levam a disfunções sexuais, e que na maioria das vezes são causados por insegurança e baixa auto-estima.

A função sexual preservada, isto é, livre de disfunções, é algo fundamental para a realização pessoal. As dificuldades sexuais, na maioria das vezes, abalam a estrutura global do indivíduo. Dessa forma, podem comprometer, de forma significativa, o bem-estar e a qualidade de vida de homens e mulheres.

A baixa auto-estima pode causar diversas dificuldades sexuais, sendo que essas dificuldades acarretam em uma alteração ainda maior do conceito que a pessoa tem de si mesma. A pouca valorização nos torna adversários do nosso próprio bem estar. Saber-se merecedor da felicidade é a essência da auto-estima e da plenitude sexual.


Cláudia Faria, Psicóloga e Terapeuta Sexual